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Não resisto a colocar alguns excertos de um artigo publicado hoje por Esther Mucznik no Público..

"A queda de Bagdad começa a ter, na região, os mesmos efeitos da queda do Muro de Berlim na Europa de Leste", afirmou recentemente, numa entrevista à publicação "on-line" "Proche-Orient.info", Emma Bonino, membro do Parlamento Europeu e ex-comissária europeia, hoje a viver no Cairo. Emma Bonino afirma, ainda, que "somos surdos e cegos se não virmos que a queda de Saddam Hussein fez o efeito de um terramoto em vários regimes autoritários e corruptos nesta parte do mundo. Não porque eles se tenham convertido subitamente à democracia, mas simplesmente porque têm medo de que, depois de Bagdad, chegue a sua vez".
Os acontecimentos dos últimos meses dão-lhe razão: digo isto sem qualquer triunfalismo, porque o desfecho deste terramoto ainda é uma incógnita, mas a realidade é que, no seguimento da queda de Saddam Hussein, se verificam brechas profundas do Irão à Síria, passando pela Arábia Saudita e, apesar de tudo, no próprio conflito israelo-palestiniano.... Repito: não há que ter optimismos desajustados, nem falsas expectativas relativamente a uma situação complexa, numa região profundamente marcada por tiranias despóticas, por ódios e ressentimentos ancestrais, por quotidianos desesperados e ameaças permanentes do terrorismo. Mas também devemos evitar a atitude cínica dos profetas da desgraça e da impotência, para quem "paz" é sobretudo sinónimo de manter o "statu quo". Um "statu quo" infinitamente mais doloroso do que qualquer mudança, mas que não perturba o nosso, também infinito, sossego. Há, de facto, um clima de mudança e o pior cego é aquele que tapa os olhos com as mãos. Porque se corre o risco de não ver que há forças nas sociedades do Médio Oriente que, aproveitando a brecha aberta pela queda de Saddam, manifestam a sua aspiração à liberdade e à democracia. Muita gente acredita que a democracia é um luxo para países ricos, que o Ocidente pode impor os seus produtos e a sua economia, mas deve guardar os seus valores só para si; que a democracia no Médio Oriente apenas vai favorecer a subida do extremismo islâmico ao poder. Mas o que a realidade da região mostra é que sem liberdade, sem direitos humanos, sem democracia é impossível vencer a pobreza e ter um crescimento económico estável. Assim como não é possível uma verdadeira pacificação. Por isso, não basta dar dinheiro para acabar com a pobreza. Talvez sossegue a consciência, mas não resolve o problema. É mais importante contribuir para apoiar as forças da liberdade e da democracia. Não será esta, afinal, a mensagem dos estudantes do Irão?

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