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Salazar no século XXI

O ano de 2007 tem sido, como Pedro Morgado defende e muito bem, o ano de Salazar! As tentativas para reabilitar a imagem de Salazar como grande estadista têm estado na ordem do dia.

Eu não compartilho a visão maniqueísta daqueles que fazem da análise do Estado Novo uma visão meramente ideológica. Certamente terá havido coisas positivas, e Salazar não terá sido o diabo em pessoa. Mas foi um ditador! E um dos maiores, senão o maior, responsável pelo nosso atraso estrutural. Portugal é um país atrasado, não tenhamos dúvidas, devido em grande parte, ao regime conservador, autoritário e retrógrado de António Oliveira Salazar.

Infelizmente, há uma certa direita que cai sempre no mesmo erro. Ao mesmo tempo que critica as ditaduras de esquerda, relativiza as ditaduras de direita. Esta direita, representando ainda resquícios da velha direita portuguesa, gosta de Salazar. Tende a desculpabilizá-lo pelos anos de ditadura que Portugal viveu. No fundo, tem saudades do slogan "Deus, Pátria e Família".

Mas Salazar é, infelizmente, uma das grandes figuras históricas portuguesas do século XX. Ao quererem fazer um Museu de Salazar, existem alguns aspectos que devem ser salvaguardados. Em primeiro lugar, não deverá ser um mero local de propaganda ao ditador. Não deverá transformar-se num local de peregrinação da extrema-direita portuguesa. Um Museu de Salazar e do Estado Novo terá significado e importância, se conseguir ser um espelho histórico da época, reflectindo não uma visão ideológica, mas uma visão aproximada da realidade (o que será complicado, sem dúvida). E se querem fazer um Museu em homenagem a Salazar, então que o façam com dinheiros privados. Os protestos dos lutadores antifascistas, são também eles ridículos, pois nem sequer admitem que se possa fazer um Museu sobre aquele período histórico.

Como última nota, o ridículo concurso "Os Grandes Portugueses" suscitou um abaixo-assinado, não menos ridículo, de historiadores, a lamentarem-se por erros históricos e pela forma como foi organizado o dito concurso. Um espectáculo televisivo é mesmo isso. Se vai ganhar Salazar ou Cunhal, não terá significado nenhum, exceptuando para os fanáticos partidários dessas duas figuras gémeas, que têm andado divertidos a votar. A história não se vota, não vai a concurso. Fazer um abaixo-assinado é dar importância a algo que a simplesmente não tem.

2 Responses to “sociedade & vida”

  1. # Blogger Pedro Fernandes Martins

    Concordo inteiramente com esta opinião. Habitualmente, diz-se que a História se repete, mas querer fazer de Salazar um herói não cabe na cabeça de ninguém. Andam uns a lutar pela liberdade, pelo direito ao protesto e, por outro lado, há quem queira voltar ainda mais atrás. Por amor de Deus, isto só reforça mais a ideia de atraso na mentalidade de muitos. Parabéns pelo blogue! Boas postagens!  

  2. # Blogger Pedro Morgado

    Passamos a vida a reescrever a história, com os resultados que se têm visto.  

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